Produção agrícola paulista sofre prejuízos com a forte chuva

A produção agrícola paulista tem sido fortemente afetada pela chuva que está acima da média. Ainda não há um levantamento preciso sobre todas as perdas geradas, mas já há estimativas de comprometimento da próxima safra. Os prejuízos podem ser percebidos nas feiras livres e supermercados, onde algumas mercadorias são ofertadas a preços mais caros e não raro com queda na qualidade.

Entre os segmentos mais sensíveis estão as verduras, cujos preços no setor atacadista da Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o maior do mundo na venda de hortifrutigranjeiros, aumentaram 11% em janeiro. O economista da Ceagesp, Flávio Godas, observou que esse reajuste incidiu sobre uma base já elevada que foi de 22% em dezembro.

Um total de 10% da comercialização diária da Ceagesp %u2013 que é de 10 mil toneladas %u2013 é de verdura. Mas, neste mês, o giro caiu para 700 toneladas. Ele estima que nessa região de Mogi das Cruzes e de Salesópolis houve uma perda na colheita entre 15 e 20%. O grande problema neste segmento, segundo Godas, é que trata-se de uma cultura de curto prazo e desde o inverno passado a chuva tem afetado os ciclos de produção. Apesar disso, %u201Cnão há risco de desabastecimento%u201D, garante ele, ao lembrar as opções da produção em estufa ou mesmo da hidroponia. A questão é que esse recurso tecnológico implica em mais gastos com investimentos e repasse ao consumidor final.

A Agência Brasil observou alguns preços, praticados, no varejo e constatou que em alguns pontos, a alface é vendida por até R$ 2. Quanto às frutas e leguminosas, a maioria vem de outros locais e não chegam a causar grande impacto em razão das chuvas, aponta Godas. Ainda assim, em janeiro os preços subiram em média 1,25% no caso das frutas ante um alta anterior de 3% de dezembro.

O abastecimento da Ceagesp é formado por produtos que chegam de l.488 cidades de 18 países. Da Holanda, por exemplo, foram importados pela primeira vez, carregamentos de cebola para contornar a queda da safra comprada do estado de Santa Catarina, também castigado pela forte chuva.

Lotes de maçã %u2013 normalmente, fornecidos pelo Sul do país (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) também chegam da França e da Argentina. O melão é fornecido pelo Rio Grande do Norte. Da China, vem o alho, dos Estados Unidos, pêra, uva, pêssego e ameixa. E da Nova Zelândia, o kiwi.

De acordo com o último levantamento em torno do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a laranja aparece entre os principais itens que ajudaram a aumentar a inflação. Na terceira prévia de janeiro, o produto subiu 10,31%. Mas neste caso a razão não é a chuva, mas o período de entressafra, além das exportações do suco de laranja.

O pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Sérgio Torquato, destacou ser %u201Cainda é prematuro%u201D fazer uma análise quantitativa sobre as perdas na agricultura paulista. Os dados ainda estão sendo apurados. Mas, segundo ele, já se sabe que haverá diminuição na oferta e também na qualidade do feijão, %u201Csensível à formação de fungos e mofos diante da grande umidade%u201D. Ele informou que a cultura do café também vem sendo afetada porque o excesso de água traz doenças e pragas. Dos 223 mil hectares plantados, a maioria 23% concentra-se na região de Franca.

Outro exemplo é a cana-de-açúcar. Torquato adverte, porém, que as condições climáticas atrasou as colheitas, mas não é a única a favorecer uma alta dos preços do açúcar e do álcool. “Apenas vem se somar à concorrência de preços com as importações da Índia”, disse. Em São Paulo estão 60% da produção nacional %u2013 de 530 milhões de toneladas.

Fonte: Agência Brasil / Correio Braziliense