Produtores do Acre aprendem técnica de enxertia em tomateiro

Em busca de alternativas para melhorar a produção de tomate, produtores do Projeto de Assentamento Benfica, localizado no ramal Novo Horizonte, no quilômetro 15 da BR-317, município de Rio Branco (AC), participaram de dia de campo e capacitação para aprender como realizar enxertia em tomateiro, nos dias 25 e 26 de maio de 2010.

A iniciativa do Programa de Fortalecimento da Horticultura Familiar, executado pelo governo do Acre, Sebrae Acre, Embrapa Acre, Secretaria Municipal de Agricultura e Floresta (Safra) e outras instituições locais, inclui além de atividades práticas, visitas a áreas de produtores para conhecer sistemas de produção de tomate.

A enxertia é uma técnica amplamente utilizada na citricultura e horticultura como alternativa para reduzir a incidência de doenças, aumentar a produtividade e melhorar a qualidade da produção. Consiste basicamente no isolamento de uma planta susceptível, com plantas resistentes à doença, os chamados porta-enxertos ou cavalos. O pesquisador da Embrapa Hortaliças (Brasília/DF), José Mendonça, está em Rio Branco ensinando a técnica a um grupo de 30 produtores.

Desde 2008, agricultores familiares de diversas comunidades rurais do Acre vêm sendo capacitados para o uso de novas tecnologias no cultivo de hortaliças. Para viabilizar o acesso a estes conhecimentos, a Embrapa Acre articulou a vinda de especialistas na área, junto a unidades de pesquisa de outros estados.

De acordo com Mendonça, a horticultura na Amazônia torna-se inviável sem a aplicação da técnica de enxertia, em razão da presença de uma bactéria nos solos da região: a Ralstonia solanocearum, patógeno causador da Murcha bacteriana, principal fator limitante da produção. A bactéria ataca principalmente as hortaliças da família das solanáceas como o tomate e a pimenta. “O clima amazônico, caracterizado pela combinação de altas temperaturas e elevados níveis de umidade relativa do ar, favorece o desenvolvimento da doença”, explica.

O agricultor Francisco Veiga tem larga experiência no cultivo de hortaliças. Com cerca de 620 metros quadrados de estufa, há oito anos vem investindo em diversos cultivos em sua propriedade. Ele conta que já abasteceu os supermercados da capital, fornecendo diariamente 250 quilos de pepino japonês e 5 mil maços de cebolinha, mas, ultimamente a produção está reduzida. “Além das doenças, o alto preço dos insumos e o baixo valor de compra dos nossos produtos, praticados pelos supermercados, inviabilizam a produção de hortaliças no Acre”, lamenta.

TECNOLOGIA LIMPA

O processo de enxertia evita o contato da planta comercial (parte superior) com o solo, reduzindo a incidência de doenças. Em estados da Amazônia, a perda por morte de plantas nos cultivos de tomate é superior a 40%, devido à Murcha bacteriana. Com a técnica de enxertia, o índice de sobrevivência dos plantios chega a 100%. Além disso, a técnica reduz os custos de produção e agrega benefícios ambientais. “Trata-se de uma tecnologia limpa, que se encaixa perfeitamente no cultivo orgânico porque dispensa o uso de agrotóxicos e não causa impacto ao meio ambiente”, diz Mendonça.

O sucesso na produção de hortaliças não depende apenas da inovação tecnológica dos cultivos. Mendonça alerta sobre a necessidade de se realizar o manejo adequado das culturas e adotar determinados cuidados para evitar a proliferação de doenças. “Trocar roupas e sapatos e lavar bem as ferramentas de trabalho antes de entrar no viveiro são procedimentos essenciais para manter os cultivos saudáveis”.

Além de ser uma técnica simples e acessível, outra boa notícia em relação à enxertia é que existem disponíveis no mercado porta-enxertos com mais de uma característica de resistência, capazes de resistir à Murcha bacteriana, nematóides e outras doenças fúngicas.

FORTALECIMENTO DA PRODUÇÃO

O Programa de Fortalecimento da Horticultura Familiar começou em 2008, no Vale do Juruá. No final de 2009 ampliou sua abrangência para Rio Branco e Bujari, passando a beneficiar 100 famílias no Estado. Entre os produtores de hortaliças de Rio Branco, apenas seis produzem tomate, mas até o final de 2010 este número será ampliado, garante a consultora do Sebrae, Jani Toloza. Ela acompanha as diversas etapas do Programa, orientando os produtores desde a implantação dos plantios, até a colheita e pós-colheita da produção.

Segundo a consultora, o acesso a conhecimentos técnicos para plantio, manejo, cuidados na prevenção de doenças, eliminação de hospedeiros, entre outras informações vem permitindo melhorar a produção. “Paulatinamente os produtores foram se conscientizando sobre a necessidade de adotar práticas adequadas na condução dos plantios e esta consciência pode se estender também para outras culturas”, afirma.

Conforme Francinei Santos, coordenador do Programa, as ações tem como foco a produção de tomate e outras hortaliças com apelo comercial no mercado local como beterraba, cenoura, pimentão e repolho. A rotação de culturas a partir da segunda colheita do tomate é usada como alternativa para fortalecer a produção no Estado. A primeira colheita no Juruá rendeu 5.500 quilos de tomate. Apesar dos números mostrarem que o Acre tem grande potencial para a produção de hortaliças, ainda existe uma grande dependência em relação a outros estados, fator que encarece o produto.

Somente em Rio Branco o consumo de tomate é de 100 toneladas por mês, quase totalmente importado de outras regiões. Em municípios do Juruá, parte do que é consumido vem do Peru (país fronteiriço) e de outros estados brasileiros. Para se ter idéia do custo para a população, no início de 2010, o quilo do produto foi vendido a cinco reais, em supermercados de Rio Branco, e em Cruzeiro do Sul chegou a nove reais.

Dados da Associação Acriana de Supermercados (Asas) revelam que em 2007 o Acre importava, semanalmente, 400 toneladas de hortifrutis. “O objetivo do Programa é aumentar a renda dos produtores rurais, por meio do desenvolvimento da horticultura e ampliar a oferta de produtos no mercado interno, contribuindo para reduzir o volume de importações”, esclarece Santos.

Fonte: Embrapa Acre
Diva Gonçalves – Jornalista
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