Por Fabiana Mendes
O tomate é a hortaliça fruto mais consumida no Brasil. É saboroso, rico em potássio e cada vez mais utilizado na culinária brasileira, in natura, em forma de saladas, ou processado, como molhos, sucos, sopas e tomate seco. Com o consumo cada vez maior, a produção também tem crescido, Porém, esse desenvolvimento da cultura tem esbarrado na ocorrência de algumas doenças. A mais severa provocada por vírus é o vira-cabeça, que causa grandes prejuízos aos produtores.
Essa patologia é causada por um complexo de vírus denominados tospovirus, da família Bunyaviridae, que são transmitidos por um inseto, o tripes, também conhecida como lacerdinha (inseto). O vira-cabeça ocor-re em todas as regiões produtoras de tomate do País, podendo causar a perda total da produção.
Agora, porém, a doença parece estar com os dias contados. Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Hortaliças juntamente com a Universidade de Brasília (UnB), prometem minimizar o impacto dessa doença nos tomateiros por meio do melhoramento genético. O estudo foi feito com a utilização de biotecnologias por meio das quais conseguiram isolar o gene Sw-5, um fator de resistência ao vírus do vira-cabeça encontrado em espécies de tomate silvestre.
O estudo foi desenvolvido pelo estudante de doutorado da UnB, Erico de Campos Dianese e contou com a orientação de Maria Esther Fonseca, pesquisadora da Embrapa Hortaliças e de Leonardo Boiteux, coordenador do Programa de Melhoramento de Tomate da Embrapa Hortaliças.
Boiteux explica que após a identificação do vírus de resistência, foi retirado o pólen da planta resistente e feito o cruzamento com a sensível. “Avaliamos os filhos do cruzamento e verificamos que era um gene que controlava a resistência, o Sw-5”, explica Esther. Ela conta que eles conseguiram achar a impressão digital que era exclusiva do gene resistente. De acordo com Leonardo Boiteux, esse marcador (que são informação do DNA que indicam a presença de determinado gene) é ideal para diferenciar, sem margem de erro, plantas suscetíveis e resistentes.
DOMINANTE
O gene Sw-5 já é utilizado pelas empresas de sementes e sua inserção em novas variedades é o objetivo de qualquer programa de melhoramento que vise gerar tomateiros resistentes ao vira-cabeça. Por isso, esse novo marcador é tão importante.
Segundo Esther Fonseca, a importância da descoberta se justifica porque a maioria dos marcadores moleculares utilizados atualmente para monitorar a incorporação do gene Sw-5 são apenas próximos ao gene e podem ser separados nos cruzamentos de plantas realizados no melhoramento genético. “O novo marcador, derivado do próprio gene Sw-5, é ideal para diferenciar, com certeza, plantas suscetíveis e resistentes”, explica a pesquisadora.
A principal vantagem do novo marcador, segundo Leonardo Boiteux, é que ele assegura a manutenção da resistência ao vira-cabeça sempre que for identificado em uma planta, uma vez que o gene Sw-5 é dominante. Ele explica que esse sis-tema pode ser usado para qualquer tipo de tomate. “Essas características são cruciais para as empresas de sementes que visam o desenvolvimento de novos híbridos de tomate. Desta forma, o desenvolvimento deste novo marcador aumentará a capacidade de monitoramento da incorporação do gene Sw-5 em variedades comerciais de tomate no Brasil e no mundo”, afirma.
Enxertia salva lavoura
Em locais de clima quente e úmido, os cultivos de tomate são muito atacados por doenças variadas que. muitas vezes, acabam por inviabilizar o cultivo da hortaliça. Visando reduzir a ocorrência dessas doenças, uma linha de pesquisa da Embrapa está produzindo porta-enxerto resistente às principais doenças do tomateiro.
“Pegamos a jurubeba e colocamos o tomate em cima dela. Como se ela fosse o cavalo e o tomate o cavaleiro”, explica o coordenador do Programa de Melhoramento do Tomate da Embrapa Hortaliças, Leonardo Boiteaux. Ele explica que a vantagem do uso da jurubeba é que ela possui resistência às principais doenças do tomateiro.
Boiteax explica que a enxertia é uma prática que requer cuidado e treinamento e está se expandindo porque algumas variedades respondem bem à tecnologia, ficando bem vigorosas. Porém, nem sempre a experiência obtém sucesso. “Existem casos em que a enxertia não dá certo, porque quando é feita a junção das duas plantas elas apresentam incompatibilidade”, esclarece o pesquisador.
Um exemplo de enxertia de sucesso está sendo utilizado no com- bate à murcha bacteriana do tomateiro, feita pelos pesquisadores da Embrapa Hortaliças José Lindoríco de Mendonça e Carlos Alberto Lopes. A murcha bacteriana é uma doença capaz de provocar perdas significativas especialmente sob altas temperaturas e umidade. Ela apresenta grande diversidade genética e, por isso, é capaz de atacar centenas de espécies de plantas.
CLIMA FAVORECE
O clima ideal para doenças desse tipo são os das regiões Norte e Nordeste do Brasil, além de cultivos de verão em terras de baixa altitude no restante do País. Sua importância tem aumentado significativamente também nos últimos anos em cultivos protegidos.
O sintoma inicial da murcha bacteriana é a murcha das folhas na parte superior da planta. Esses sinais são vistos principalmente no início da frutificação, e com maior intensidade nas horas mais quentes do dia. Quase sempre é notada nas partes mais baixas e úmidas do terreno. Sob condições favoráveis ao desenvolvimento da doença (temperatura e umidade altas), em poucos dias a murcha atinge toda a planta e ela seca e morre.
Resultado no campo
A enxertia de variedade comercial sobre porta-enxerto resistente é uma técnica antiga e que vem ganhando importância. De acordo com José Lindorico Mendonças, da Embrapa Hortaliças, foi realizado em Brasília, um experimento de tomate sob cultivo protegido, em uma região de solo de várzea, rico em matéria orgânica e natural-mente infestado com a bactéria causadora da mancha bacteriana.
Ele conta que na oitava semana de cultivo, observou-se 80% das plantas de tomateiros Santa Clara não enxertados estavam mortas, enquanto em plantas formadas por meio de porta-enxerto não houve nenhuma ocorrência da doença.
A técnica de uso de porta-enxertos resistentes à doença isola o enxerto (tomateiro comercial) do contato com o solo onde está a bactéria. E essa técnica, de acordo com Mendonça, pode ser feito por meio do uso de um tomateiro resistente ou de outras espécies de plantas do mesmo gênero que sejam resistentes, como é o caso da utilização de jurubebas como porta-enxerto para o cultivo de tomates.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Hortaliças, a técnica da enxertia apresenta grande potencial, pois alguns porta-enxertos, além de resistência à murcha bacteriana, podem apresentar resistência a outras doenças de solo. No Distrito Federal, a adoção da enxertia por produtores que utilizam cultivo protegido está se difundindo. Em Planaltina, por exemplo, existe um viveiro que produz mudas de tomateiro enxertadas, por encomenda.
Medidas de control
O controle da murcha bacteriana sem a utilização de enxertia é con-siderado muito difícil, pois não existem cultivares de tomateiro com alta resistência à doença e que apresentem boa aceitação pelo consumidor e nenhuma medida de con-trole individual é eficaz.
Para quem ainda não utiliza porta-enxertos, algumas medidas podem reduzir a contaminação, como evitar plantios em época de umidade e temperaturas muito elevadas, não plantar tomate em áreas onde tenham sido cultivadas plantas da família Solanácea e (tomate, berinjela, pimentão, jiló, fumo) ou outras espécies que tenham apresentado a doença em anos anteriores.
Outra medida para evitar a ocorrência da murcha bacteriana é evitar plantar em áreas que recebam água escoada de lavoura infestada pela doença, além de controlar nematóides e insetos de solo, pois eles causam ferimentos na planta, dexando uma porta aberta para a entrada da bactéria.
PROCEDIMENTOS
José Lindorico Mendonça, da Embrapa Hortaliças, recomenda também aos agricultores que façam o plantio do tomate em solos mais leves, bem drenados, evitando acúmulo de água na base da planta. Outro conselho é que o produtor, mesmo nesses locais, evite irrigações muito frequentes ou com grande lâmina d”água.
Mesmo que a doença não apareça, ele recomenda fazer rotação de culturas por um período de pelo menos dois anos, de preferência com gramíneas (milho, sorgo, arroz e capins). “Evitar o trânsito de pessoas e máquinas em focos da doença para evitar que ela se espalhe”, é outra recomendação do pesquisador da Embrapa Hortaliças.
Em locais com muita insolação, ele aconselha fazer a solarização (cobertura do solo com plástico transparente por aproximadamente dois meses) para reduzir a população bacteriana. Mas, preferencialmente, o melhor mesmo é plantar mudas em porta-enxertos resistentes à murcha bacteriana.
SAIBA +
Na década de 1990, o vira-cabeça era a principal limitação do cultivo do tomateiro no Brasil e o controle dessa doença era objeto de estudos da Embrapa Hortaliças, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
O primeiro grande avanço científico-tecnológico foi a descoberta de que os Tospovirus formavam um complexo de espécies de vírus com características diferentes.
Os sintomas do vira-cabeça são visíveis a olho nu. A planta não cresce, a ponta dela entorta para baixo, ela fica amarela e não produz flores.
Caso o tomateiro pegue o vira-cabeça quando já estiver produzindo, anéis amarelados aparecem nos frutos.
A doença do vira-cabeça também afeta as culturas de alface, amendoim, pimentão, jiló, abobrinha, pepino e cebola.
Os tipos de tomate mais cultivados são o longa vida (caqui), usado para saladas; o tomate italiano, bom para saladas, molhos caseiros e tomate seco, o tomate cereja, usado para saladas, processamentos e decoração, e o tomate Santa Clara, de uso recomendado para saladas e molhos.
Mais informações sobre cultivo de tomate na Embrapa Hortaliças: (61) 3385-9000, com José Lindorico Mendonça Mendonça (61) 3385-9071 e com Leonardo Boiteaux e-mail boiteux@cnph. embrapa.br.
Fonte: Jornal de Brasília