S.O.S. Abelhas sem Ferrão

Por Maria Eugênia Ribeiro  

Criadas pelos índios antes mesmo da colonização do Brasil, as abelhas sem ferrão, também conhecidas como abelhas indígenas, são encontradas nas regiões tropicais e sub-tropicais. No Brasil, existem mais de 300 espécies desses insetos sociais, com grande variabilidade de tamanho, cor, hábitos de nidificação e potencial produtivo.

 

Responsáveis pela polinização de grande parte das espécies vegetais nativas, essas abelhas tem um papel fundamental na preservação ambiental. Entretanto, segundo o pesquisador Warwick Estevam Kerr (1998), aproximadamente um terço das espécies estão em risco, em decorrência da degradação dos ecossistemas. Esse quadro é mais alarmante se considerarmos que muitas espécies ainda são desconhecidas.

 

Os desmatamentos que estão ocorrendo em todo o Piauí, com finalidade de usar a terra para plantio ou somente para abastecer as carvoarias, estão contribuindo para o desaparecimento dessas abelhas. Recentemente, em um resgate de ninhos de abelhas sem ferrão em uma área que está sendo desmatada no município de Guadalupe, uma equipe da Embrapa Meio-Norte encontrou sete colônias em 12m² de área. Por vezes é possível encontrar cinco ninhos em uma única árvore.

 

Por serem nativas, essas abelhas são protegidas pelo Ibama. Segundo o artigo 7° da Resolução Nº 346 de 06 de julho de 2004 do Connma (Conselho Nacional do Meio Ambiente) “Os desmatamentos e empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental deverão facilitar a coleta de colônias em sua área de impacto ou enviá-las para os meliponários cadastrados mais próximos”. Embora previsto por lei, essa iniciativa é rara. A coleta das colônias além de proteger as abelhas, estimula a criação racional, propagando as espécies.

 

A criação racional de abelhas sem-ferrão (conhecida como meliponicultura) vem demonstrando ser uma excelente alternativa para geração de renda para populações tradicionais, por ser de fácil manejo e não interferir no tempo gasto nas demais atividades agropecuárias. Os métodos de criação racional são bem aceitos pela população, uma vez que o mel dessas espécies apresenta grande valor cultural e é normalmente utilizado para fins terapêuticos, devido às características medicinais a ele atribuídas. Além do mel, outros subprodutos das abelhas sem ferrão, como o geoprópolis, o pólen e a cera, apresentam grande potencial como alternativas para auxiliar no sustento em pequenas propriedades rurais.

 

Assim, além de proporcionar melhorias nas condições de vida das comunidades tradicionais, a meliponicultura exerce papel importante na preservação das abelhas, aumenta o fluxo de polinizadores nas áreas de agroflorestais, conseqüentemente, aumentando a produção de frutos e enriquecendo a dieta alimentar da população local.

 

A Embrapa Meio-Norte vem trabalhando para a preservação dessas abelhas, mantendo um banco de germoplasma e capacitando produtores na criação racional.

 

O banco de germoplasma é atualmente responsável pela conservação de colônias das espécies Melipona subnitida (jandaira), Melipona rufiventris (uruçu amarela) e Melipona compressipes (tiuba), entretanto, existe a intenção de incluir as espécies Melipona asilvae (manduri) e Melipona mandacaia (mandaçaia). As colônias são mantidas em Teresina e em Castelo do Piauí, nas instalações da própria Embrapa.

 

A capacitação dos produtores na criação racional dessas abelhas está sendo realizada com apoio da Chesf (Companhia Hidro Elétrica de São Francisco) nos municípios do cerrado piauiense e maranhense, situados no entorno da represa de Boa Esperança. O trabalho está levando em consideração a aptidão local, o interesse do produtor e as espécies de abelhas de ocorrência regional.

 

Essas iniciativas são importantes, mas isoladas. É necessária uma conscientização maior de toda a população sobre a importância da preservação das abelhas sem ferrão.

 


Autoria: Fábia de Mello Pereira – Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte