Por Rafael Jorge Corsino – Engenheiro agrônomo, especializado em Agribusiness
Diretor do projeto de Hortaliças da empresa Agrícola Wehrmann, Presidente da Anapa (Associação Nacional dos Produtores de Alho e colunista do portal CampoNews.
Em 12 de dezembro de 2004 o maior jornal do mundo, “The New York Times”, publicou uma matéria afirmando que o Brasil havia se tornado o celeiro do mundo. Nós, brasileiros, sempre soubemos da nossa capacidade de alimentar o mundo, mas a partir daquela publicação esse encargo (ou bônus) passou a ser ecoado pelo mundo globalizado.
Já se passaram mais de cinco anos desde a publicação da matéria, e a pergunta que se faz é a seguinte: o Brasil é realmente o celeiro do mundo? O Brasil está preparado para assumir esse bônus (ou encargo)?
Se depender da força do agricultor, dos conhecimentos científicos direcionados ao campo e do potencial para expansão da produção agrícola, a resposta é afirmativa para ambas as indagações.
Agora, se ficarmos dependente de políticas públicas, de movimentos sociais radicais e, principalmente, do extremismo ambiental, a resposta é negativa.
Antes de mais nada é preciso ter em mente uma premissa: não é inconciliável a preservação ambiental com o desenvolvimento agrário.
Não podemos imaginar que a agricultura continue a gerar riquezas e empregos com uma redução de área agricultável. Também não podemos permitir que devaste florestas sem nenhuma preocupação ambiental.
No entanto, tentam difundir a ideia de que é necessário preservar e recuperar áreas, independentemente do papel econômico e social da agricultura naquela região. Tais ideias extremistas querem fazer com que o Brasil deixe de ser o celeiro do mundo para ser o quintal do planeta.
Os mesmos países desenvolvidos (EUA e alguns países da União Europeia) que devastaram suas florestas e matas, sem nenhuma preocupação com as gerações futuras, tentam impor que o Brasil retroceda, abra mão do franco desenvolvimento para compensar os erros por eles cometidos no passado.
Obviamente que o Brasil não vai cometer o mesmo equívoco de dilacerar suas florestas. Mas não se pode permitir que haja exigências para que se recuperem matas sem nenhum efeito prático, indo contra ao desenvolvimento nacional.
Não se trata de uma luta entre agricultura e meio ambiente, mas sim entre o bom senso e o extremismo. O homem precisa do meio ambiente preservado; mas também precisa de uma agricultura desenvolvida.
A exigência imposta para que todos os produtores rurais preservem ou restabeleçam a área de reserva legal é um exemplo claro da falta de bom senso; ausência de bom senso que advém de um grupo que se diz ambientalista, o qual não analisa a situação de forma objetiva, pontual, mas sim ampla e descontextualizada.
A reserva legal imposta pela lei não tem efeito prático, além de causar prejuízo de grande monta à economia e à sociedade brasileira. A falta de efeito prático se deve ao fato de que não adiante exigir, por exemplo, que médios e pequenos produtores rurais reservem 20% de sua área intacta, pois isso não restabelecerá (nem preservará) o ecossistema da região. A não ser que se preservem grandes áreas, com formação contínua de biomas. Do contrário, será inutilizar áreas produtivas para a manutenção de pequenos jardins.
Se ambientalista é quem cuida do meio ambiente, não podemos considerar ambientalista aquele que quer prejudicar um ambiente de pujança econômica e social em benefício de pequenas e isoladas matas, que não trarão resultados práticos.
Para se ter uma ideia dos danos que a reserva legal pode acarretar, basta citar o exemplo do Estado de São Paulo. Segundo dados da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil), o produtor paulista terá que recompor o plantio de 3,7 milhões de hectares. Isto porque São Paulo possui 0,7% de reserva legal em média, quando a lei estabelece o patamar mínimo de 20%. Assim, o custo total do replantio nas propriedades rurais paulistas poderá chegar ao patamar de R$ 37 bilhões, isso sem falar na perda da produtividade.
É necessário colocar a agricultura em seu devido lugar, valorizando os produtores rurais, e não os tratando como criminosos ambientais. Nós, agricultores, não vamos aceitar deixar a posição de gerentes do celeiro do mundo, para sermos capineiros de um quintal abandonado.
Fonte: ANAPA