Cidades já consomem 70% dos recursos naturais do planeta

Mais da metade da população mundial vive nas cidades e já responde pelo consumo de 70% dos recursos disponíveis na natureza. O alerta consta no relatório intitulado “A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para Políticas Locais e Regionais” (Teeb, na sigla em inglês), lançado no Brasil na quinta-feira, 9 de setembro, em workshop realizado em Curitiba, no Paraná.

Segundo o documento, com a estimativa de que a população do planeta supere 9,2 bilhões até 2050, a Terra terá 6 bilhões de habitantes, quase 90% da população atual, vivendo no espaço urbano. Diante desses dados, governos estaduais, prefeituras e comunidades precisam reconhecer o valor do capital natural (água, solo, biodiversidade). Os formuladores de políticas públicas têm razões de sobra para tentar encontrar, o mais rápido possível, soluções de combate à degradação dos ecossistemas e minimização da perda da biodiversidade.

“O relatório é importante para que os gestores públicos reconheçam o valor econômico da biodiversidade”, destacou o diretor do Departamento de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Bráulio Dias. Para ele, o documento pode ajudar na solução do impasse entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico. “O Teeb mostra que os serviços ambientais têm o papel de reduzir os impactos ecológicos do desenvolvimento.”

Mesmo caminho
Um dos objetivos do relatório é demonstrar que meio ambiente e economia não só podem, como devem, caminhar juntos nas políticas públicas. O relatório levanta, principalmente, a questão de valoração e impacto do uso e preservação dos recursos naturais. Os atuais níveis da pegada ecológica e social do homem, nome que os especialistas dão aos recursos naturais necessários para que cada ser humano viva, devem ser incluídos nas contas de planejamento das economias locais.

O representante do MMA citou como exemplo recente as enchentes no Brasil que causaram prejuízos econômicos elevados – bem superiores aos que seriam gastos com medidas de preservação do meio ambiente. O relatório destaca três aspectos para os quais as políticas públicas precisam estar voltadas: a distribuição dos benefícios da natureza, o uso do conhecimento científico disponível e o engajamento dos gestores e das comunidades envolvidas nas ações de preservação.

Alguns dos pontos analisados pelo Teeb dizem respeito as áreas protegidas e ao aumento dos benefícios locais da conservação. O documento também oferece orientações sobre os incentivos de recompensa da boa administração de capital natural local, tais como sistemas de pagamento localmente adaptados por serviços ambientais, certificação e rotulagem.

Esse é o primeiro de uma série de cinco relatórios Teeb que serão levados à Convenção da Biodiversidade (COP10), que será realizada em outubro, na cidade japonesa de Nagoya. Ele contribui também para o Atlas Ambiental on-line da Agência Europeia de Meio Ambiente, por meio de estudos de vários esforços que já vem sendo feitos para associar ecossistemas e a biodiversidade nas iniciativas de políticas locais.

Segundo o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, alguns governos locais já acordaram para o problema da preservação ambiental e têm adotado as medidas necessárias, com ganhos para suas economias locais. “Mas muitos ainda precisam aderir”, alertou.

Teeb
O objetivo do Teeb é reunir experiências, conhecimentos e habilidades em nível mundial nos campos da ciência, economia e política de modo a permitir ações concretas e eficientes em resposta ao visível impacto causado pelas crescentes perdas da diversidade biológica.

Coordenado pelo economista sênior e coordenador das iniciativas relacionadas à economia ambiental do Pnuma, Pavan Sukhdev, o Teeb foi lançado em resposta à proposta dos ministros de Meio Ambiente do G8+5 (Potsdam, Alemanha, 2007) para desenvolver uma análise global sobre o impacto econômico gerado pelas perdas da biodiversidade. O documento independente conta com apoio financeiro da Comissão Europeia, Alemanha, Reino Unido, Noruega, Holanda e Suécia.

Fonte: Portal Terra