Entrevista – Gestão Rural Sustentável

O informativo da Bayer CropScience entrevistou a Dra. Margarete Boteon, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da ESALQ/USP, e uma das responsáveis pelo projeto piloto realizado no Vale do São Francisco, chamado “Gestão Rural Sustentável”. 
 
Ela fala sobre as principais conclusões e recomendações do projeto, que acaba de ser concluído, e também faz um balanço de como está o mercado de HF (hortifruti) no Brasil atualmente.

O Cepea acabou de concluir um estudo sobre a gestão rural sustentável, com produtores de uva do Vale do São Francisco. Qual o objetivo do projeto?             
O objetivo foi avaliar a sustentabilidade econômica da cultura da uva de mesa no Vale do São Francisco. Esse estudo foi desenvolvido pela equipe Hortifruti Brasil do Centro de Estudos Avançada (Cepea), ligado ao Departamento de Economia da ESALQ/USP, e teve apoio da Bayer CropScience. Os trabalhos tiveram início em janeiro de 2009 e foram finalizados agora em abril deste ano. Além de mim, que fiquei responsável pela conceituação do projeto e análise dos resultados finais, estava envolvido na coordenação do projeto o pesquisador João Paulo Deleo, responsável pela coleta e análise dos dados de custo de produção.

Quais as principais conclusões deste estudo?            
Na medida em que aumenta a escala de produção da cultura da uva de mesa no Vale do São Francisco (VSF), com base nos custos apurados em 2008, menor é a sustentabilidade econômica da atividade. A razão é que o ganho de escala observado na cultura da uva naquele ano não se traduziu em maior eficiência produtiva e de infraestrutura. Ao contrário, quanto maior a escala, mais caros foram os investimentos em ativos fixos por hectare e menor foi a produtividade (também por hectare). Quanto à eficiência na comercialização, observa-se que o ganho de escala foi um ponto positivo, mas ele por si só não garantiu um retorno melhor no investimento da cultura, se tomarmos como base o ano de 2008. É necessário um acompanhamos dos custos e da receita de diversos anos para termos uma análise mais consistente. No entanto, levamos esses resultados aos produtores da região e eles concordaram com a conclusão da pesquisa.

E quais são as principais recomendações?                                                          
A recomendação geral do estudo é que a sustentabilidade econômica da cultura de uva de mesa no Vale do São Francisco depende de um forte ajuste produtivo e gerencial, especialmente no que se refere à gestão da mão de obra. Além disso, é necessário aprimorar o uso da estrutura de bens e benfeitorias das propriedades de média e grande escala, para que o efeito escala de produção favoreça estes grupos. Com isso, os produtores poderiam garantir a viabilidade do negócio no médio e longo prazo, e inclusive seria possível aumentar a produtividade. Quanto à pequena escala de produção, os custos foram mais baixos. Nesse caso, o grande desafio é o ganho na eficiência comercial, no sentido de agregar mais valor ao preço de venda da uva.

Por que o foco foi a uva? Como foi feita esta seleção de cultura e região?
Esse é um projeto piloto na área de fruticultura e o objetivo é avaliar a sustentabilidade econômica para outras frutas nos próximos estudos.

Você pode traçar um breve panorama de como estão as culturas HF no Brasil hoje?     
No geral, a expansão em área de frutas e hortaliças é estável e nota-se uma grande evolução da produtividade graças à melhora da tecnologia empregada na produção. Para impulsionar esse mercado, precisamos ampliar tanto a demanda externa quanto a interna nos próximos anos. Para exportação, a questão cambial vem limitando a rentabilidade do exportador e isso deve limitar o crescimento dos embarques. No mercado doméstico, apesar de promissoras as expectativas de crescimento da economia nacional, o consumo brasileiro per capita de frutas e hortaliças é muito baixo, o que limita o tamanho deste mercado.

Fonte: Bayer CropScience